quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Sustentabilidade Ambiental: um olhar sobre a EXPO 2015

A EXPO  é considerada uma das exposições mais antigas do mundo. Lembro de ter estudado em História da Arquitetura no séc XIX as tais Exposições Universais, as quais a Torre Eifel e o Palácio de Cristal foram objetos.

Após 109 anos, o evento sediado na Itália -EXPO Milão- abriu suas portas em maio deste ano e encerrou agora, dia 31 de outubro, atingindo um público superior a 20 milhões de pessoas ao abordar o tema: “Alimentar o planeta, Energia para a vida”.

Os mais 140 países representados através de pavilhões e instalações  foram impressionantes. E tinham que ser mesmo para justificar as enormes filas que precisamos enfrentar para acessá-los. Era tanta gente que parecia um misto entre carnaval de Olinda com fim de ano na Rua 25 de março, só que com frio e um “Q” de Disney – como acrescentou a amiga Lu Magalhães.


Os pavilhões mais cotados, como o Japão, chegaram a levar 8 horas da paciência de seus visitantes só em fila que rodeavam os corredores da feira. Segundo comentários que ouvi dos próprios: “Italianos deixam tudo para última hora” (*fui na última semana), resultado:  #LuseSentindoemCasa ;)


Como meu tour foi de 10 intensas horas ao todo busquei, sobretudo as opções com maior apelo ambiental. Assim, conferi alguns pavilhões menos cobiçados (mas não menos interessantes) e as instalações nos pátios e áreas externas da feira.

A questão do alimento/nutrição, sua produção, elementos culturais em cada país representado e o seu descarte / desperdício estiveram presentes por toda parte na  EXPO 2015 através da pertinente reflexão: “Como garantir comida saudável para todos os povos respeitando os limites dos recursos naturais do planeta? ”

Esse tema é tão atual que o observei desde em exposições em museus em outras cidades da Europa, quanto na feira de ciências de minha filha aqui em Recife :P Parece que aquela velha polêmica Neomalthusiana ainda tem teorias a gerar... E desta vez, incluindo a abordagem dos orgânicos e hidropônicos, reciclagens/reuso de bens naturais, produção campo x cidade, tecnologia ambiental de ponta e por aí vai... 

No pavilhão Zero uma instalação apresentou uma projeção sobre a origem da produção e escambo de alimentos. Mais adiante uma montanha de restos de comida simbolizava o alerta ao desperdício praticado em todas as nações e um painel contabilizava o custo deste prejuízo como se fosse uma bolsa de valores.



Por fim, um anfiteatro integrando uma árvore a estrutura acolheu os visitantes dirigindo-os a cúpula final do pavilhão.

O Pavilhão da Bélgica, uma estrutura em madeira, aço e vidro rodeado por jardins auto-filtrantes mostrou seus famosos chocolates, jóias e tecnologias para solucionar a ausência de luz do sol e espaço no solo para produção de alimentos.  O prédio, além de reutilizar sua própria água, também explorou energia solar através das células na coberta translúcida que iluminava naturalmente o interior do pavilhão.




Outro exemplar bastante frequentado foi o Pavilhão Vietnamita. Em seu interior, sobretudo apresentações culturais com danças e música típica da região. Externamente uma impressionante estrutura de bambus inspiradas em árvores nativas. A construção com bambu tem sido redescoberta como "aço do futuro", dada a sua flexibilidade e resistência. No Brasil existem experiência exitosas deste material na construção civil, contudo a espécie que temos em abundância - Vulagaris - não é tão apropriada quanto o Guadua ou Giganteus. Este fato, o do cultivo, tem limitado a oferta do material tratado para o mercado da construção civil, contudo a Cana da Índia, de menor diâmetro, ainda é largamente utilizada como elemento decorativo. Apenas, é uma pena...



O Pavilhão da França nos fez percorrer por uma plantação de hortaliças até chegar a uma estrutura em madeira certificada extremamente inovadora e aerodinâmica. Arcos entrelaçados abrigavam produtos típicos do país entre seus colmos... uma instalação bem cenográfica e estimulante aos sentidos.


Tetos jardins e intervenções paisagísticas nos muros se integrando a arquitetura puderam ser vistos em vários locais da EXPO. Na verdade estes artifícios pareciam "lugar comum" nos edifícios das cidades que percorri. Vamos ver se esta tendência, junto a força da legislação a tecnologia se desenvolve por aqui ;)



A entrada do Pavilhão da Alemanha - que como sempre se garante na tecnologia - contou com essas estruturas abaixo em forma de flor (ou o que?) que também capta recursos naturais e gera energia. 




A polônia criou um espaço bem cabeça... quer dizer, não só eles como muitos outros como Alemanha e Holanda criaram espaços tipo os Parklets que a gente conhece: pequenas praças com móveis de pallets, cahepots com plantas ornamentais (de comer!) para ambientar os espaços de estar/espera ao ar livre.

Os caixotes de feira enveloparam o edifício, só não soube se estes foram reutilizados, mas certamente serão na ocasião do desmonte, assim como foi feito com vários espaços que doaram seus materiais e produtos para instituições.



Ainda na vibe da doação, me chamou atenção esta Boteglia gigante que ficou exposta na EXPO arrecadando tampinhas de embalagem PET para doar pessoas com câncer.  A decoração da flor abaixo bem que merecia a consultoria da LIXIKI, nera?! rsssss




Um Pavilhão que não visitei, mas queria postar aqui é o do Slow Food. Trata-se de uma estrutura  de madeira super simples, mas de forte apelo ambiental.  O movimento que tem adeptos em todo mundo discute a importância de repensarmos nosso hábitos alimentares face ao impacto ambiental negativo que esta cadeia produtiva gera no planeta. Estima-se que 1/3 de toda comida produzida no mundo seja desperdiçada. A exposição mostrou também a pegada ecológica de alguns alimentos, inclusive a água engarrafada. 

Segundo o video disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HJ7UmqNhaEY  
a apresentadora Fê Cortez #menos1lixo - que agora eu descobri e super-sigo -  alerta que apenas 6% do plástico produzido no mundo chega a ser reciclado. Este link faz parte de uma pequena série de videos que o programa fez na EXPO 2015 justamente com o olhar sobre a sustentabilidade ambiental. Vale a pena conferir a série, já que fiquei só nas fotos mesmo ;)





Pausa para a refeição... hora de observar a dinâmica dos restaurantes. Se há desperdício??? É provável!!! Também, né... (Alguém já viu macarrão puro macarrão dentro de um pão? #AffCurtoNão:P )  E os resíduos? Sim claro, mas... máquinas como esta baixo recolhiam os alimentos para compostagem. Se são orgânicos, por que descartáveis entraram junto??? Porque os copos e pratos da EXPO também são biodegradáveis Tcharãaaa ;)

Por sinal, o restaurante do Pavilhão Brasil também utilizou este recurso substituindo os desastrosos isopores por descartáveis de fécula de macaxeira, produto que a gente vem defendendo ha tempos junto aos empresários da panificação como alternativa de baixo impacto. Vai que pega ;)




Um dos ambientes mais intrigantes foi o Supermercado do Futuro. Ele não é apenas mais sustentável como também é comprometido e transparente quanto ao que vende. Os artigos podem ser vendidos de verdade, mas antes é bom conferir suas características tal qual fiz com aquele pedaço de bife alí embaixo. É claroooo que todos sabem que a pegada ecológico da carne é das piores, mas nada como levantar o produto e ver toda a descrição nutricional, fabricação, cadeia produtiva e impacto ambiental do danado assim bem na frente da telinha. Muito louco!!! Melhor é que quem paga é a gente mesmo, passa numa maquininha, insere o cartão e hasta la vista ;) Sacolas plásticas pra levar pra casa??? Fala sério!!! Se quiser pague alguns euros numa retornável...



Em frente a este COOP uma estrutura enlodada me chamou atenção. O  Urban Algas Folly, projetado pelo EcoLogicStudio, integra micro-algas ao que se pode chamar de "arquitetura viva". A ideia é transformar a qualidade do ar através da fotossíntese dessas espécies melhorando o microclima  e a reduzindo a emissão de CO2. Super inovadora, as superfícies se cobrem de algas quando a incidência do sol aumenta criando sobras para os usuários. É esquisito, mas é massa!




Simmm, e a locomoção internamente na EXPO??? Tudo a pé mesmo... e haja pernas!!! Observei, contudo, carros com adesivos verdes da FIAT - patrocinadora do evento - e, pesquisando, no site deles vi que 105 carros considerados ecológicos circularam pela feira utilizando combustível alternativo e menor emissão de CO2. Sustentável mesmo era se fossem outras fontes, quem sabe...



E agora... O famoso pavilhão brasileiro!!! Lotadooooooooo, só entrei no edifício e não na trama lúdica de metal por conta da fila quilométrica com a italianada que disputava espaço no caixote de metal. O projeto foi concebido para ser inovador na experiência sensorial e sustentável na construção, operação e desmontagem. Segundo os autores Studio Arthur Casas e Atelier Marko Brajovic, os processos construtivos seguiram diretrizes de sustentabilidade que incluem economia de energia e reaproveitamento de materiais utilizados.

A estrutura externa, onde ficam a rede suspensa e a galeria verde, foi erguida com aço e o revestimentos interno como piso de madeira brasileira certificada. As fachadas de cortiça funcionam como isolante térmico e painéis fotovoltaicos contribuem para a eficiência energética, assim como uma claraboia no instalada no edifício. A parte de baixo também tinha um jardim com espécies nativas. Muito criativo e iluminado!


 No edifício fechado - sim era uma composição - a exposição mostrava as riquezas naturais do país e as produções. Descobri que o Brasil é campeão em produção de carne bovina :/ (e haja metano!!!) Descobri também que uns painéis não estavam funcionando muito bem, que Dudalina expõe camisas coloridas, que a Biomassa ainda é a energia do futuro (e não do presente), que o Bar do Brasil bombou em Guarará e pão de queijo e que o #SEBRAE apoiou o artesanato local com peças dos nossos conterrâneos :) Êeeee Mistura boa!!!



Como já disseram que sou bairrista, tinha que encontrar não só meu país como minha RecCity. Ei-la abaixo, caracterizada pelo famoso Arrumadinho :P

"Vem...Vem cá que eu quero te mostrar... ;)"

Outra coisa que descobri, mas só aqui pesquisando, é o Pavilhão do Brasil foi vencedor de um prêmio criado pelo Ministério do Meio Ambiente da Itália para estimular a sustentabilidade do evento: Towards a Sustainable EXPO na categoria Design e Material. Esta foi a EXPO mais eco dos últimos tempos, e não podia ser diferente já que a abordagem é irreversível e só tende a ampliar em consciência e necessidade. 

Para traduzir / reforçar esta nova política a organização geral da EXPO publicou sua metas, objetivos, resultados e informações diversas sobre questões como o impacto ambiental gerado / minimizado no evento e a responsabilidade socioambiental dos parceiros no Relatório de Sustentabilidade, documento disponível em : www.expo2015.org/en/sustainability-report-

Um dia de visita e uma enxurrada de estímulos e informações... Apesar do tumulto e do cansaço valeu demais conhecer a EXPO 2015 em Milão e perceber, além de estruturas arquitetônicas e cenográfica incríveis,  a preocupação com o meio ambiente em cada pedaço da feira. O clima de colaboração entre povos, a valorização da cultura e o respeito as diferenças tornaram, a meu ver, este ambiente ainda mais surpreendente. 

Para terminar, quero compartilhar a imagem da Albero dell Vita , uma árvore mágica em luzes, cores e música a qual tive o privilégio de assistir nessa noite surreal. Foi um momento em que só quis agradecer, porque o tempo as vezes pára... 

#GrazieGrazieGrazie :)